llUma lenda. Antonio Roberto Espinosa era uma lenda entre nós. E era exatamente assim que me sentia ao seu lado, durante o período que convivemos e trabalhamos juntos. Era comum eu esconder minha euforia para não passar por ridículo. Hoje posso reconhecer publicamente e rir da situação. E não era para menos, afinal, não é todo dia que se pode estar com uma figura da sua envergadura, que protagonizara episódios importantes e, cujo nome, é encontrado nas páginas da história recente do país. Jornalista, professor e ativista político, foi um dos idealizadores da histórica greve da Cobrasma, em 1968, a primeira da ditadura. Tinha apenas 21 anos na ocasião. Na luta armada contra o regime, foi líder da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária e VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Atuou ao lado de figuras como o capitão Carlos Lamarca, Dilma Rousseff, Carlos Araújo, José Ibraim, Zequinha Barreto e muitos outros. Foi preso em 1969. Em decorrência da tortura a que foi submetido, perdeu a audição e muitos dentes. Ficou preso até 1974. Como jornalista, chegou a diretor da revista Veja e fundou o jornal Primeira Hora, em Osasco. Esteve sempre ao lado daqueles que lutaram e lutam pela liberdade e democracia brasileira. Eu o conheci já em sua maturidade, quando ele coordenava as discussões e debates do projeto Osasco 50 Anos e eu integrava sua comissão executiva. Um homem simples no trato, amigável, de intelecto invejável, fala mansa e riquíssima biografia. Deleitava-me com suas memórias, interessado que sempre fui pela nossa história, com entusiasmo especial pelos capítulos escritos em Osasco. Vítima de um câncer no pulmão, o bravo guerreiro nos deixou nesta semana. “Eu sou filho do meu tempo. Era fazer o que fiz ou ser indigno. Ninguém se arrepende de ter sido digno, de ter feito, naquele momento, o que deveria ser feito…”, afirmou em entrevista ao jornal Visão Oeste em 2014. A morte de pessoas como Espinosa é daquele tipo que deixa a gente ou a sociedade mais pobres. E não importa se faz ou não parte do seu dia a dia. Figuras como ele são como uma reserva de ética, moral e civismo que temos por perto, sempre à ; disposição, e isso parece nos dar alguma segurança. Grande amigo e camarada Antônio Roberto Espinosa! Fará muita falta.